segunda-feira, 3 de junho de 2019

A educação em Mogi das Cruzes no início do século XX

Em 1914 Mogi das Cruzes possuía uma população aproximada de 20080 habitantes, sendo 2.868 em idade escolar. O Município atendia em instituições educacionais 1280 alunos, ou 44,6% das crianças, distribuídas da seguinte forma: 1037 em escolas estaduais; 76 em escolas municipais e 167 em instituições particulares. Entre escolas isoladas, reunidas e Grupo Escolar, Mogi das Cruzes possuía 25 escolas. (Annuario, 1914)

 O Grupo Escolar de Mogy das Cruzes era a maior delas. Instalado em 07 de setembro de 1896, funcionava, em 1914, em dois períodos, atendendo 551 alunos; seu diretor era Rodolpho Nunes Pereira. Compunha seu quadro docente algumas das figuras de nome e sobrenome, bastante conhecidas na cidade, como: João Cardoso de Siqueira Primo, Adelino Borges Vieira; Ermelina Boulhosa Arouche; Francisco de Sousa Mello, entre outros. (Annuario, 1914) As mesmas famílias que tinham representantes no magistério local circulavam entre associações literárias, associações comerciais, irmandades religiosas, etc.; famílias como Sousa Mello, Arouche, Vieira, Siqueira, Navajas, Mello Freire, Sousa Franco, etc., ocupavam as principais posições de poder na vida política local. Não havia uma linha divisória entre público e privado, a maior ou menor aproximação com estas famílias era, por vezes, decisiva para ser nomeado para uma função pública, ou qualquer posição de destaque na sociedade local; daí a importância de se olhar para o Grupo Escolar dentro da rede de relações. 

Já o ensino privado tinha uma vida muito instável. O número de estabelecimentos variava muito de ano para ano; alguns ao iniciarem seus trabalhos letivos, funcionavam meses e logo fechavam. A falta de continuidade na vida destes estabelecimentos, aliados ao baixo número de inspetores, num total de 21, para vistoriar todos os estabelecimentos de ensino no Estado (Annuario, 1914, p.22), resultavam em pouco controle do poder público sobre as instituições particulares. Quando se tratava de estabelecimentos particulares a própria Directoria da Instrução Públlica , encarregada da direção e inspeção geral do ensino no Estado, admitia não controlar os “titulos de habilitação profissionaes dos professores”, e que “... quem quer, do dia para noite, (...) abre uma escola particular sem preencher as condições legaes...” Essas declarações fornecem uma idéia do que era o controle sobre os estabelecimentos privados. Para além dessas representações sobre a atuação dos estabelecimentos administrados por congregações religiosas, há pouca informação sobre as instituições particulares nos anuários. No ano de 1914, em Mogi das Cruzes, constavam no registro dos inspetores três estabelecimentos particulares: o Lyceu de Artes e Officios dirigido por D. Helena Hermann, oferecia curso profissional para 75 alumnas; a Escola Particular, dirigida por D. Guilhermina Juncker que oferecia curso primário para 12 alumnos, sendo 8 do sexo masculino e 4 do sexo feminino; e o Externato Sant’ Anna, dirigido pelo Pe João Lourenço de Siqueira. (Annuário, 1914, p.600-601) Em 1918, ao lado do Externato Sant’Anna, havia outras quatro instituições particulares de ensino: Instituto Musical Santa Cecília, Escola Particular I e II, The Bloson Home - escola primária com 18 alunos. (Annuário, 1918) No período que vai de 1914 a 1918 diversos estabelecimentos de ensino surgiram, mas, diferente da maior parte dos estabelecimentos, o Externato Sant’Anna foi o único que funcionou ininterruptamente por todo este período


Fundado em 1914 para funcionar como um estabelecimento particular de ensino católico era dirigido pelo Padre João Lourenço de Siqueira - figura conhecida na cidade por promover diversas obras como a restauração da Igreja Matriz, a fundação da Sociedade para atendimento dos morféticos, a fundação da Conferência de São Vicente de Paulo e o próprio Externato para abrigar crianças pobres, entre outras. (Toledo, 2004, V. I, p.86) O Padre, vindo de família católica local, que tinha uma boa condição social, deixou em testamento, todos os seus bens para que fosse fundado em Mogi das Cruzes, um asilo para meninas órfãs e pobres que deveria carregar o nome de sua mãe, dona Placidina Maria de Jesus.

Créditos: JUAREZ BERNARDINO DE OLIVEIRA, A INFÂNCIA DESVALIDA NA TRAJETÓRIA DO INSTITUTO DONA PLACIDINA EM MOGI DAS CRUZES (1931 - 1966): análise da dinâmica de atendimento de meninas órfãs e pobres em uma instituição de ensino católica. Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade.

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